quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Vicente do Rego Monteiro

Respondendo a um inquérito entre artistas, organizado por Walmir Ayala, Vicente do Rego Monteiro alinhou, como influências que mais fundamente o marcaram. ‘o Futurismo, o Cubismo, a estampa japonesa, a arte negra, a Escola de Paris. nosso Barroco e sobretudo a arte do nosso ameríndio da ilha de Marajó". Nascido em Recife, em 1899, numa família de artistas. já em 1911 Vicente do Rego Monteiro estava em Paris (em companhia da irmã mais velha), cursando, por pouco tempo, a Academia Julian. Talento precoce, cri 1913 participou do Salão dos Independentes, na capital francesa. De volta ao Brasil em 1917, dois anos maistarde realizou, em Recife, sua primeira mostra individual; em 1920 e 1921, apresentou-se no Rio de Janeiro, em São Paulo e Recife. Em São Paulo entrou em contato com os artistas intelectuais que desencadeariam a Semana de Arte Moderna da qual participou com dez de suas pinturas. Logo em seguida retornou a Paris, e integrou-se a tal ponto na vida artística ecultural da capital francesa que nos anos 20, era dos pintores estrangeiro mais conceituados na França, com assídua e notável participação em mostras duais e coletivas. Expondo na Galeria Fabre, em 1925, mereceu do critico Maurice Raynal as mais elogiosas referências:"Em vez de se dedicar comodamente caligrafia acadêmica, Rego Monteiro repudiou essa tradição latina, que sufoca geralmente os artistas do seu país, para ressuscitar a influência da tradição indígena, que devia ser a primeira a provocar e inspirar todo artista brasileiro". Em1928, nova individual, na Galeria Bernheim, Jeune, também em Paris, motivou comentários favoráveis do grande pintor e teórico do Purismo. Amédée Ozenfant. No ano seguinte, ocrítico Geo-Charles consagrou-lhe um ensaio dos mais elogiosos. Por essa época, Vicente integrou-se aos principais grupos de vanguarda artística parisiense, juntando-se a Ozenfant, Metzinger e Herbin no grupo L’Effort Moderne.
Obra: Leda e o Cisne
Quadros de sua autoria eram adquiridos pelo Museu de Arte Moderna e pelo Museu do Jeu de Paume. de Paris, pelo Museude Grenoble e pelo Palácio dos Congressos Internacionais, de Liège. Alternando praticamente toda a sua existência entre a França e o Brasil, Vicente só pouco antes de falecer desfrutou algum prestigio maior em sua terra natal, onde nunca chegou a receber a consideração que sua importância exigia. Por outro lado, nem sempre ele se manteve fiel à pintura, pois considerava-se pelo menos tão bom poeta quanto pintor. Foi o fundador da revista Renovação, em Recife, e de 1947 a 1956 manteve em Paris La Presse à Bras, editora que lançou várias plaquetas de poesia; com outros poetas, fundou o Mia de Poémes do Salâo de Maio (1948/52) e organizou o Primeiro Congresso Internacional de Poesia, realizado em Paris em 1952. Como escritor, mereceu, em 1960, O Prêmio Apollinaire, por seu Livro de poemas Broussais La Charité. Em 1957, fixou-se no Brasil. passando a lecionar sucessivamente na Escola de Belas- Artes de Recife, na de Brasília e de novo na de Recife. Em 1966 o Museu de Arte de São Paulo dedicou-lhe uma retrospectiva, o mesmo tendo feito, após sua morte, em 1970, O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Muitas das melhores telas de Rego Monteiro perderam-se num incêndio, no fim da década de 20; anos mais tarde, o artistatentou reproduzi-Ias de memória ou lançando mão de esboços e desenhos preliminares; mas, evidentemente, as obras perderam muito em emoção e sentimento. Em seus melhoresmomentos, Vicente é pessoal, embora aparentado a outros artistas de seu tempo. Sua peculiaridade é a insistência com que abordou temas nacionais, o que o transforma em percursor de uma tendência artística latino-amencana. Seu mundo de idéias oscilava entre as figuras do panteão americano e a Bíblia, os clássicos e outros temas grandiloqüentes, que tornam sua arte grave e profunda. Mas ele sentiu também, como poucos, a sedução domovimento fascinado que era pela dança e pelo esporte — e, homem de seu tempo, em   determinada fase da carreira viu-se empolgado pelo não figurativismo. Características de sua arte são a plasticidade, a sensação volumétrica que se desprende dos planos, a textura quase imaterial, de tão leve, o forte desenho, esquematizado. e a ciência da composição, que otorna um clássico, preocupado com a construção das formas. Vicente do Rego Monteiro foi também escultor, tendo deixado figuras em madeira, articuladas, num espírito afim com o do cubista Léger. Sua influência tendeu a crescer após sua morte: a ele, de certo modo, é que se referem muitos dos melhores artistas contemporâneos do Nordeste, inclusive João Câmara e Gilvan Samico.

Tarsila do Amaral

Obra: Antropofagia
 À margem da Semana de Arte Moderna, despontaram algumas personalidades importantes, sem as quais não seria possível apresentar um quadro completo da criação modernista, pois sua obra é fundamental tanto pelo nível expressivo quanto pela originalidade da solução. E não é exagerado afirmar que entre esses criadores isolados se encontram alguns dos maiores artistas brasileiros deste século, como Tarsila do Amaral, Antônio Gomide, Celso Antônio de Meneses e Osvaldo Goeldi. Tarsila do Amaral nasceu emCapivari, no interior do Estado de São Paulo. Estava perto dos trinta anos quando, em 1916, -deu início à sua carreira de artista, tornando-se aluna dos escultores Zadig e Mantovani.Em 1917 era aluna de Pedro Alexandrino, nada tendo feito que deixasse pressupor o alto nível que atingiria sua pintu ra, anos mais tarde. Depois dc curto estágio no ateliê do pintor alemão Georg Fischer Elpons, em 1920 Tarsila seguiu para a Europa, cursando por algum tempo a Academia Julian, de Paris, e o ateliê de Émile Renard, retratista da moda. Certasfiguras femininas de Tarsila, executadas por volta de 1922, em pálidas cores com predomínio de azuis, evocam diretamente o estilo desse mestre, o qual teve o mérito de encorajá-la em direção à modernidade. Em 1922, Tarsila expunha em Paris, no pacato Salão dos ArtistasFranceses, uma pintura que evocava o passado, sem remeter ao futuro. Nesse mesmo ano,contudo, retornando ao Brasil, decidiu modificar sua orientação estética; ao mesmo tempo,ligou-se aos intelectuais que formavam o Grupo Klaxon: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti dei Picchia e Sérgio Buarque de Holanda, entre outros. Logo depois formou,com os três primeiros e Anita Malfatti, o Grupo dos Cinco, de vida efêmera; em 1923 encontrava-se de novo em Paris para estudar seriamente. Em janeiro de 1923, ainda sob ainfluência do Impressionismo, pintou  Paquita, a Espanhola. Na obra seguinte — A Negra  — já se acham algumas das características que marcam sua grande obra. Por essa época, a artista começou a freqüentar os ateliês dos principais mestres cubistas. Como escreveu SérgioMilliet, em 1924, na Revista do Brasil, "André Lhote foi o seu primeiro mestre. Com eleconheceu a necessidade de uma reação contra o boichevismo impressionista. Lhote, pintor secundário, é excelente professor. Traço de união entre o cubismo e o academismo. Seu segundo mestre foi Fernand Léger. Mais um passo para a frente: mecanismo da vidamoderna, assunto novo, síntese, ritmo, movimento. Quis, porém, conhecer os requintes danova tendência e dirigiu-se a Albert Gleizes. Geometria, abstração do objeto, criação. Passou pelas três fases do cubismo. Convinham-lhe todas parcialmente. E continuou a ser Tarsila do Amaral". Ao mesmo tempo que seu espírito se abria e amadurecia, Tarsila conhecia Picasso eDe Chirico, Brancusi, Manuel de Falia, Stravinsky, André Breton, Cendrars, John dos Passos e outros plasmadores da arte do século XX. Em 1924, durante uma viagem às cidades históricas de Minas Gerais, em companhia de Oswald de Andrade e do poeta Blaise Cendrars,Tarsila descobriu o Bra-sil: as obras que compôs nos anos seguintes constituem a fase "pau-brasil", da qual E. E. C. B. é altamente significativa. Tal fase resume-se, segundo SérgioMilliet, em alguns poucos ingredientes: "As cores ditas caipiras, rosas e azuis, as flores debaú, a estilização geométrica das frutas e plantas tropicais, dos caboclos e negros, damelancolia das cidadezinhas, tudo isso enquadrado na solidez da construção cubista". Em1926 Tarsila casou-se com Oswald de Andrade. Um dia, em 1928, surgiu-lhe, sempre meditação, um quadro diferente, início da chamada fase "antropofágica", na qual sesituam seus quadros mais importantes. A própria Tarsila assim descreve o início dessa fase: "Eu quis fazer um quadro que assustasse o Oswald, uma coisa que ele não esperava. Aí é quevamos chegar no Abaporu. O Abaporu era figura monstruosa, a cabecinha, o bracinho fino,
Obra: Operários
aquelas pernas compridas, enormes, e junto tinha um cacto, que dava a impressão de um sol, como se fosse também uma flor. Oswald ficou assustadíssimo e perguntou: ‘Mas o que é isso? Que coisa extraordinária!’ Ele telefonou para o Raul Bopp: ‘Venha imediatamente aqui,que é para você ver uma coisa!’ Raul Bopp foi lá no meu ateliê, na rua Barão de Piracicaba, assustou-se também. Oswald disse: ‘Isso é como se fosse selvagem, uma coisa do mato’, e o Bopp concordou. Eu quis dar um nome selvagem também ao quadro e dei Abaporu, palavra que encontrei no dicionário de Montoya, da língua dos índios. Quer dizer ‘antropófago’ ".Baseando-se nessa obra, Oswald de Andrade elaborou toda uma teoria, da qual a  Revista  de  Antropofagia seria o órgão oficial. Em 1931 Tarsila viajou para a União Soviética, chegando arealizar, em Moscou, uma exposição individual; ao regressar, impressionada com o que lá observara, pintou alguns quadros de tema social, entre eles duas obras-primas: Operários e 2ª Classe. Essa fase social pouco duraria, pois logo em seguida a artista retornou à sua temática caipira, agora resolvida num espírito talvez mais lírico.Tais retornos de Tarsila a fases anteriores tornaram-se habituais: em 1946, pinturas como Primavera ou Praias retomavam "o gigantismo onírico da fase antropofágica, agora imersanum lirismo novo, pontilhista quase, em meios tons"; Fazenda outras obras feitas após 1950de novo apresentam" as tônicas da fase pau-brasil no colorido de baú, porém sensivelmente suavizado". Tarsila do Amaral faleceu a 17de janeiro de 1973, deixando obra relativamente pequena: cerca de 250 óleos, meia dúzia de esculturas, três gravuras e umas poucas centenas de desenhos, conforme o recenseamento levado a cabo por sua biógrafa Aracy Amaral. Uma das percursoras do que se poderia chamar de pintura nacional brasileira, Tarsila soube emprestar a seus temas um lirismo intenso, adaptando formas e cores brasileiras à severa disciplina cubista.

Milton Dacosta

Obra: Roda
Nascido em 1915 em Niterói, foi um artista precoce. Sua primeira participação no SalãoNacional de Belas-Artes se deu em 1933, e sua primeira mostra individual realizou-se em1936, na Galeria Santo Antônio, no Rio. Dacosta estudou na Escola Nacional de Belas-Artes, onde foi aluno de Marques Júnior. Suas primeiras produções, paisagens de cunho naturalista, são exercícios de um rapaz de pouco mais de 15 anos, nos quais já se evidenciavam certas qualidades como um agudo senso de construção formal, uma tendência inata a captar oessencial das coisas, o horror ao regional, ao folclórico e ao anedótico. Por volta de 1940, Dacosta abandonou sua primeira maneira e, sob influência da Escola de Paris, iniciou umnova fase, marcada pela influência de Cézanne, Modigliani, De Chirico e, entre os brasileiros,Portinari. Essa influência se mostra presente em sua tendência construtiva, sua atmosferararefeita em certos quadros, e nos pescoços longos e nas cabeças ovaladas de seus
ciclistas e banhistas além do despojamento e severidade de certas naturezas mortas. A influência maior, contudo, proveio do Cubismo, mas de um cubismo adaptado à circunstância brasileira e às peculiaridades do temperamento do pintor. Foi essa paixão pelo cubismo que fez Dacosta substituir gradualmete o Impressionistmo de suas primeiras obras por uma arte mais extruturada, mais construída. Em 1955, recebeu o prêmio de melhor pintor brasileiro naBienal de São Paulo e de viagem ao estrangeiro no Salão de Belas-Artes de 1944. Várias vezes expôs individualmente e participou de mostras coletivas. Teve salas especiais na VIBienal de São Paulo, em 1961, e nas I Bienal da Bahia, em 1966.

Lasar Segall

Pintor, escultor, desenhista e gravador, Lasar Segall nasceu em 1891 em Vilna, naLituânia, e nessa cidade (então parte integrante do território russo) deu início ao seuaprendizado, com o escultor e gravador Markus Antokolski. Em 1906 emigrou para a Alemanha, estudando na Academia de Belas-Artes de Berlim entre 1907 e 1909, quando foidesligado por ter participado da
Obra: Encontro
Freie Sezession  — uma exposição de artistasdescompromissados com a estética oficial — na qual conquistou o Prémio Max Liebermanu.Em 1910 transferiu-se para Dresden, freqíientando a Academia de Belas-Artes local naqualidade de Meisterschúller (aluno instrutor), dispondo de atéliê próprio e de plena liberdadede expressão. Em Dresden, no mesmo ano, realizou sua primeira mostra individual, compinturas ainda fortemente marcadas pelo Impressionismo de Liebermann. Tinha Segall cercade vinte anos quando começou a se afastar gradativamente da influência de Liebermann e ase aproximar do Expressionismo. Sempre em busca de novos caminhos, estava em 1912 nosPaíses Baixos, e em 1913 aventurou-se até o Brasil, onde realizou a primeira exposição dearte moderna. No mesmo ano retornou à Alemanha; em 1914, cidadão russo que era, foiinternado num campo de concentração. Essa amarga experiência lhe serviria, anos maistarde, na abordagem de alguns de seus quadros mais trágicos, inspirados pela guerra de1939. Até 1923 Segall permaneceu na Alemanha, onde publicou quatro álbuns de litografias eáguas-fortes e realizou exposiç6es individuais em Hagen (1920), Frankfurt (1921) e Leipzig(1923). A Alemanha vencida proporcionava-lhe campo propicio ao trágico e rudeExpressionismo dc sua mocidade. Aos 32 anos, já senhor de sua técnica, praticava urnatemática pessoal: velhos leitores do Talmude, camponeses e mendigos, indigentes e crianças,evocações da terra natal e retratos de parentes e intelectuais, auto-retratos. Seu desenho éincisivo e anguloso; o colorido, forte e cru, O corpo humano é deformado de modo a melhorevocar paixões e sofrimento. Em 1923, decidiu voltar ao Brasil, radicando-se definitivamenteem São Paulo, onde, no ano seguinte, efetuou nova mostra individual, e realizou a decoraçãodo Pavilhão de Arte Moderna de Dona Olivia Guedes Penteado. Casando-se em 1925 comuma discípula, Jenny Klabín, adotou como sua a nova terra, naturalizando-se mais tardecidadão brasileiro. Ao mesmo tempo, deu inicio às pinturas de temática brasileira — mulatascom filhos ao colo, marinheiros e prostitutas, favelas e bananeiras — expostas em 1926 emBerlim, Dresden e Stuttgart, em 1927cm São Paulo em 1928 no Rio de Janeiro. Em 1929Segall passou a esculpir, criando, em madeira, pedra e gesso, as mesmas figuras sofridas esolitárias que já eternizara em pinturas, desenhos e gravuras. Cabe recordar que seu primeiromestre, Antokolski, foi. um dos mais importantes escultores russos do século XIX: sua obra,influenciada por Rodin, oscila entre os temas judaicos e as grandes personagens da históriarussa, sem falar nos mártires e santos do cristianismo, que muito o seduziram. Pode-seaventar a hipótese de uma influência, leve mas duradoura, de Antokolskí sobre Segall escultor. Após ter realizado uma exposição em Paris, em 1932, Segall fundou, com outrosartistas, a Sociedade Pró-Arte Moderna SPAM — da qual foi, por assim dizer,  a alma. Duas desuas series mais importantes de pinturas tiveram Inicio em 1935: as interpretações danatureza de Campos do Jordão e os Retratos de Lucy (sua jovem aluna Lucy Citti Ferreira).Foram intervalos de calma, nos quais vibram tonalidades líricas. Em 1936, porém, o artistaestava de volta à antiga ambiência de tragédia e solidão: é a época de suas primeiraspinturas de temática social, que lhe garantiram um lugar de destaque entre os principaisexpressionistas do século. Essas pinturas preludiam a iminente conflagração mundial, os massacres, o genocídio,Pogrom, Na pio de Emigrantes, Guerra, Campo de Concentraçdo. Os Condenados e as gravura do álbum Visões de Guerra  (1940-1943) compõem uma dramática sequência de sofrimento, raras vezes expresso, em obras pictóricas, de modo tão intenso eprofundo. Uma grande exposição realizada em 1943 no Museu Nacional de Belas-Artes, noRio de Janeiro (não sem incidentes criados pelos pintores tradicionalistas ou acadêmicos),colocou definitivamente Sega 11 entre nossos maiores artistas. Em 1944 a temática dasprostitutas, que vinha desde os tempos da mocidade em Berlim, de novo irrompe nasgravuras do álbum Mangue.A mesma temática ressurge numa de suas últimas séries de pinturas, 4s Erradias, de 1949. Neste mesmo ano, tem inicio uma nova fase, interrompidapela morte em 1957: As Florestas. Lasar Segall é tipicamente expressionista. Enquadrando-secomo artista de técnica e temperamento europeus, pode também ser considerado brasileiro,não só porque viveu entre nós vários anos, chegando mesmo a se naturalizar, mas porque seinspirou em nossa gente e em nossas coisas, chegando, em certos momentos, a ser tocadopela luminosidade tropical. Foi excepcional como pintor, como desenhista, como gravador —nas três técnicas — e como escultor, Além do mais, contribuiu poderosamente para aimplantação da arte moderna em São Paulo e no Brasil, cujos limites culturais alargou. Suatemática é, no dizer de Geraldo Ferraz, a do sofrimento humano- O drama de sua raça judaica e, mais do que isso, o drama da raça humana, ameaçada de extermínio pela violênciae pela intolerância, motivaram-lhe os quadros mais sofridos. Segall nunca foi maior nem maissincero do que quando retratou os desamparados e os oprimidos-+, e em suas grandes obrasde cunho social chega a evocar o Goya dos Desastres de Guerra  e o Picasso de Guernica. No fim da vida tornou-se mais lírico, adotando por vezes tom bucólico ante a paisagem deCampos do Jordão; sentiu também o apelo do não-figurativismo, na série As Florestas, que presenciou experiências formais e cromáticas; mas tinha necessidade da figura humana paraexternar seus sentimentos. E é como grande pintor figurativo, um dos maiores que viveramno Brasil, que será sempre evocado.

Ismael Nery

Obra: Nu no Cabide
Descendente de índios, negros e holandeses, Ismael Nery, tinha dois anos de idadequando sua família se fixou no Rio de Janeiro; aos 15, matriculou-se na Escola Nacional deBelas-Artes, da qual foi aluno rebelde e displicente. Ao contrário de Di Cavalcanti, Tarsila e Vicente do Rego Monteiro, Ismael Nery buscava o universal: nunca o preocupou aeventualidade de uma pintura brasileira. Por outro lado, em toda a sua obra assoma um tema: a figura humana. Foi, na verdade, um clássico, cevado na profunda admiração quedevotava a Ticiano, Tintorreto, Veronese e Rafael - admiração que estendeu a Chagall, Max Ernst e Picasso. Em sua produção, pouco extensa - cerca de cem óleos, apenas,e de um milheiro de aquarelas, guaches e desenhos, distinuem-se três fases: aexpressionista, de 1922 a 1923; a cubista, de 1924 a 1927 e a surrealista, de 1927 ao fim davida. Se artisticamente o período expressionista-cubista é o mais importante e fecundo(influência de Picasso), o último, marcado por Chagall, é historicamente o de maior relevo,tendo sido Ismael o introdutor do surrealismo entre nós.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Alberto da Veiga Guignard

Obra: Dança de Roda
Ainda adolecente, Alberto da Veiga Guignard, seguiu com sua família para a Europa ondecursou as academias de Arte de Florença e Munique, e expôs por duas vezes no Salão deOutono, em Paris. Referindo-se a si mesmo na terceira pessoa,Guignard disse, em 1960, que " de acadêmico passou a moderno , após ter visto umaexposição de arte moderna alemã: o modernsmo o fascinou." Em 1929, retornou ao Rio deJaneiro e lecionou na Fundação Osório e na Antiga Universidade do Distrito Federal, além demontar seu ateliê. De meados da década de 30 até o final da vida, Guignard evoluiugradativamente, sempre concedendo primordial importância ao desenho.Em 1944, mudou-se para Minas Gerais a convite de Juscelino e foi como paisagista queatingui seu apogeu sobretudo das séries Jardim Botânico, Itatiaia, Parque Municipal de BeloHorizonte, Lagoa Santa, Sabará e Ouro Preto. Guignard era dotado de excelente técnica,pintando em camadas finas, que se sucediam umas sobre as outras, à maneira dos antigos.Sua pintura é, preferentemente, lisa, ignorando o empaste.