quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Lasar Segall

Pintor, escultor, desenhista e gravador, Lasar Segall nasceu em 1891 em Vilna, naLituânia, e nessa cidade (então parte integrante do território russo) deu início ao seuaprendizado, com o escultor e gravador Markus Antokolski. Em 1906 emigrou para a Alemanha, estudando na Academia de Belas-Artes de Berlim entre 1907 e 1909, quando foidesligado por ter participado da
Obra: Encontro
Freie Sezession  — uma exposição de artistasdescompromissados com a estética oficial — na qual conquistou o Prémio Max Liebermanu.Em 1910 transferiu-se para Dresden, freqíientando a Academia de Belas-Artes local naqualidade de Meisterschúller (aluno instrutor), dispondo de atéliê próprio e de plena liberdadede expressão. Em Dresden, no mesmo ano, realizou sua primeira mostra individual, compinturas ainda fortemente marcadas pelo Impressionismo de Liebermann. Tinha Segall cercade vinte anos quando começou a se afastar gradativamente da influência de Liebermann e ase aproximar do Expressionismo. Sempre em busca de novos caminhos, estava em 1912 nosPaíses Baixos, e em 1913 aventurou-se até o Brasil, onde realizou a primeira exposição dearte moderna. No mesmo ano retornou à Alemanha; em 1914, cidadão russo que era, foiinternado num campo de concentração. Essa amarga experiência lhe serviria, anos maistarde, na abordagem de alguns de seus quadros mais trágicos, inspirados pela guerra de1939. Até 1923 Segall permaneceu na Alemanha, onde publicou quatro álbuns de litografias eáguas-fortes e realizou exposiç6es individuais em Hagen (1920), Frankfurt (1921) e Leipzig(1923). A Alemanha vencida proporcionava-lhe campo propicio ao trágico e rudeExpressionismo dc sua mocidade. Aos 32 anos, já senhor de sua técnica, praticava urnatemática pessoal: velhos leitores do Talmude, camponeses e mendigos, indigentes e crianças,evocações da terra natal e retratos de parentes e intelectuais, auto-retratos. Seu desenho éincisivo e anguloso; o colorido, forte e cru, O corpo humano é deformado de modo a melhorevocar paixões e sofrimento. Em 1923, decidiu voltar ao Brasil, radicando-se definitivamenteem São Paulo, onde, no ano seguinte, efetuou nova mostra individual, e realizou a decoraçãodo Pavilhão de Arte Moderna de Dona Olivia Guedes Penteado. Casando-se em 1925 comuma discípula, Jenny Klabín, adotou como sua a nova terra, naturalizando-se mais tardecidadão brasileiro. Ao mesmo tempo, deu inicio às pinturas de temática brasileira — mulatascom filhos ao colo, marinheiros e prostitutas, favelas e bananeiras — expostas em 1926 emBerlim, Dresden e Stuttgart, em 1927cm São Paulo em 1928 no Rio de Janeiro. Em 1929Segall passou a esculpir, criando, em madeira, pedra e gesso, as mesmas figuras sofridas esolitárias que já eternizara em pinturas, desenhos e gravuras. Cabe recordar que seu primeiromestre, Antokolski, foi. um dos mais importantes escultores russos do século XIX: sua obra,influenciada por Rodin, oscila entre os temas judaicos e as grandes personagens da históriarussa, sem falar nos mártires e santos do cristianismo, que muito o seduziram. Pode-seaventar a hipótese de uma influência, leve mas duradoura, de Antokolskí sobre Segall escultor. Após ter realizado uma exposição em Paris, em 1932, Segall fundou, com outrosartistas, a Sociedade Pró-Arte Moderna SPAM — da qual foi, por assim dizer,  a alma. Duas desuas series mais importantes de pinturas tiveram Inicio em 1935: as interpretações danatureza de Campos do Jordão e os Retratos de Lucy (sua jovem aluna Lucy Citti Ferreira).Foram intervalos de calma, nos quais vibram tonalidades líricas. Em 1936, porém, o artistaestava de volta à antiga ambiência de tragédia e solidão: é a época de suas primeiraspinturas de temática social, que lhe garantiram um lugar de destaque entre os principaisexpressionistas do século. Essas pinturas preludiam a iminente conflagração mundial, os massacres, o genocídio,Pogrom, Na pio de Emigrantes, Guerra, Campo de Concentraçdo. Os Condenados e as gravura do álbum Visões de Guerra  (1940-1943) compõem uma dramática sequência de sofrimento, raras vezes expresso, em obras pictóricas, de modo tão intenso eprofundo. Uma grande exposição realizada em 1943 no Museu Nacional de Belas-Artes, noRio de Janeiro (não sem incidentes criados pelos pintores tradicionalistas ou acadêmicos),colocou definitivamente Sega 11 entre nossos maiores artistas. Em 1944 a temática dasprostitutas, que vinha desde os tempos da mocidade em Berlim, de novo irrompe nasgravuras do álbum Mangue.A mesma temática ressurge numa de suas últimas séries de pinturas, 4s Erradias, de 1949. Neste mesmo ano, tem inicio uma nova fase, interrompidapela morte em 1957: As Florestas. Lasar Segall é tipicamente expressionista. Enquadrando-secomo artista de técnica e temperamento europeus, pode também ser considerado brasileiro,não só porque viveu entre nós vários anos, chegando mesmo a se naturalizar, mas porque seinspirou em nossa gente e em nossas coisas, chegando, em certos momentos, a ser tocadopela luminosidade tropical. Foi excepcional como pintor, como desenhista, como gravador —nas três técnicas — e como escultor, Além do mais, contribuiu poderosamente para aimplantação da arte moderna em São Paulo e no Brasil, cujos limites culturais alargou. Suatemática é, no dizer de Geraldo Ferraz, a do sofrimento humano- O drama de sua raça judaica e, mais do que isso, o drama da raça humana, ameaçada de extermínio pela violênciae pela intolerância, motivaram-lhe os quadros mais sofridos. Segall nunca foi maior nem maissincero do que quando retratou os desamparados e os oprimidos-+, e em suas grandes obrasde cunho social chega a evocar o Goya dos Desastres de Guerra  e o Picasso de Guernica. No fim da vida tornou-se mais lírico, adotando por vezes tom bucólico ante a paisagem deCampos do Jordão; sentiu também o apelo do não-figurativismo, na série As Florestas, que presenciou experiências formais e cromáticas; mas tinha necessidade da figura humana paraexternar seus sentimentos. E é como grande pintor figurativo, um dos maiores que viveramno Brasil, que será sempre evocado.

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